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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Uma missa

Quando Jesus caminhou por esse planeta há mais de dois mil anos, a sua tarefa era pregar o amor entre os povos, o entendimento e a fraternidade. Jesus era muito esperto, pois sabia que se todos seguissem seus mandamentos os problemas do mundo praticamente não existiriam: as guerras onde antes Dele e depois Dele os humanos se explodem bestamente, os homicídios, as traições, a grande maioria das tristezas. Mas quis e ainda quer o ser moderno ( e também queria o antigo) viver de um modo diferente, sobrepondo-se a tudo e a todos e deixando-se dominar por sentimentos escusos. A humanidade é sempre assim, prefere seguir o caminho tortuoso e de sofrimento, desce à escuridão em busca de luz.



Sexta feira passada  foi a missa de sétimo dia do falecimento de meu irmão. Ele era evangélico, mas como a maioria da família sempre professou a religião católica, resolveram que o ideal seria uma missa, para que sua alma estivesse em “paz”.
A igreja estava lotada. As conversas paralelas eram nítidas. O padre bem que se esforçou para transmitir paz e serenidade, citando o nome da família várias vezes.
Citou o livro de Rute, falou em moabitas, saduceus e fariseus.

Tornei a olhar a multidão presente  e imaginei se todos ali sabiam o significado  das  palavras “moabita”, “saduceu” e fariseu”. Esperei que o padre explicasse algo sobre o texto, mas nada comentou. Poderia ter explicado que Rute significa amizade e que moabita  era o habitante de Moabe, lugar que hoje é a Jordânia. Mas nada foi explicado e muito menos comentado sobre o texto lido.

Vale a pena ouvir algo que não se entende? E repetir frases decoradas?

O burburinho era intenso. Crianças passeavam de um lado para o outro. Na minha frente uma moça colocava uma bala na boca do namorado.
“Será que ela sabe o que é uma moabita?”. Pensei. Mas depois pensei também que saber o que era uma moabita nada tinha a ver com o espírito de uma pessoa que havia desencarnado há sete dias. Enfim, tudo aquilo era uma grande confusão sem sentido, sem significado. Era um senta e levanta imprevisível. E mais uma vez  cheguei a conclusão do porquê de haver me tornado Espírita.

Pensei em sintetizar todas as minhas impressões sobre a ocasião e colocar no blog. Lembrei-me do Hosaka. Afinal, ele era Católico... Será que ele frequentava as missas todas as semanas, ouvia trechos difíceis de entender da Bíblia, se  sentava e se levantava toda hora? Será que ele sabia que Rute era moabita? E que ela havia sido citada em uma missa de sétimo dia?

Mentalmente eu montava um texto... E passei meditando sobre esse texto... Se escrevia ou não... Porque às vezes eu me lembrava que um dia o William havia comentado no blog dele, que achava que se eu também tinha criado meu próprio blog, era porque eu deveria escrever muito bem. Mas ele havia acompanhado meus escritos e não tinha visto nada demais, ou seja, meus escritos haviam sido  (para ele) uma tremenda decepção...

Mas mesmo tendo visto esses comentários nada favoráveis, resolvi escrever  sobre as impressões que tive em uma missa de sétimo dia em que o padre falou sobre a Rute, sobre fariseus, saduceus e não explicou nada sobre o  que foi lido. Todo mundo levantava e sentava, repetia frases decoradas, e penso que para o morto não serviu de muita coisa.

Mas de qualquer forma valeu a intenção. Nada trará meu irmão de volta. Mas Kardec e os livros do Chico me garantiram que um dia iremos nos encontrar novamente.


"No fim dá tudo certo. Se não deu certo ainda é porque não chegou no fim". (Fernando Sabino)

 
Assim seja.






Selma

3 comentários:

  1. Olá, Selma,

    A missa é exatamente isso, tradição. É muito raro um padre conseguir costurar textos tão desconexos com a realidade presente, o que não foi o caso do Padre José e do Padre Magalhães. Muita gente fica boiando com as leituras, e o Padre Magalhães desceu do altar, e perguntou:

    Alguém daqui de vocês é contra a ideia do padre descer do altar e falar de perto com os seus fiéis? E ninguém se manifestou.

    Ótimo! Agora eu quero saber de vocês, qual de vocês quer ir para o céu agora? E a plateia ficou em silêncio, um olhando para o outro.

    Muito de nós católicos acostumamos tanto com a rotina de senta e levanta que esquecemos que a Missa é para lembrar de Jesus e do nosso compromisso de preparar a videira para devolver ao Verdadeiro Dono. Nada disso que temos em mãos é nosso, nossas roupas, nossos bens materiais, nem mesmo as nossas lágrimas. A nossa vida pertence a Deus, e cabe a nós aprendermos a agradecer por esse maravilhoso milagre.

    Quantos de nós podemos contemplar o lírio dos campos, o sorriso das crianças, a cor do arco-iris, o calor de uma tarde de verão? Quantos de nós somos capazes de avaliar que valemos mais do que o saldo bancário? Quanto de nós deixamos de viver porque deixamos ser escravizados pelo nosso orgulho?

    Enfim, é lamentável que um padre não consiga lembrar que a Missa é para agradecer ao Pai por termos a oportunidade de amar um irmão, mesmo que ele não esteja mais conosco.

    Frank K Hosaka
    fhosaka@uol.com.br (11)8199-7091 Diadema-SP

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  2. Tudo isso que a Selma e o Hosaka escreveram sobre missa, padre, Kardec e emperucado nos força a concordar com o ateu à-toa:
    Todo religioso (seguidor de religião) não passa dum idiota.
    Ass.: 233

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  3. Apaguei meu registro de ontem,e escrevo agora,outra réplica.

    O sr.Hosaka tem razão,Selma.
    O padre da missa, por ter estado emotivo- não soube "criar o clima" -para a despedida de um ente querido.

    Nessas horas, lembramos do quanto a vida é frágil.
    Nossos amores são vulneráveis.
    Nada permanece intacto- todas as coisas estão em decomposição.(palavras de sri Santinho,no sutra do Mahaparinirvana)
    Sou cinestésica em meu jeito de "fruir" do que a rotina nos dispõe-mas,por uma autodefesa.
    Porque nem adianta gostarmos tanto.
    Nossos amigos nos deixam- todos nos abandonam- nossas flores,nossos bichos, nossos anos,etc,etc.

    Não sei com o que podemos contar.
    Mas podemos contar conosco.
    E com nosso amor imutável- que sobrevive em essência, - e nas saudades.
    Suponho que para quem morreu,o importante,é entender o quanto ele fez aos seus entes queridos,felizes.
    E isso ele vai entender,se a "essência" do nosso sentimento amoroso, nos levar a viver- e a continuarmos fazendo felizes,aos que conhecemos.

    Abs.
    Que Deus tenha o seu irmão.

    "só louco amou como eu amei,só louco,quis o bem que eu quis...(letra de música)"

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