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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Quem está aí?

Por Carla Peralva e Murilo Roncolato

Um retrato do Brasil. É assim que o Google vê o Orkut. Pelo menos é assim que ele é descrito pelo gerente de marketing da empresa no País, Valdir Leme.

Aos sete anos de idade – o aniversário foi em 24 de janeiro – a única rede social do Google que vingou enfrenta outra rede, que também tem sete anos mas está bem mais crescidinha: o Facebook. O site de Zuckerberg desafia a rede social que só é popular mesmo no Brasil a se manter competitiva como plataforma de criação de aplicativos.

O escritório de desenvolvimento do Orkut, que conta com algo em torno de 50 engenheiros, fica em Belo Horizonte. As áreas comerciais e financeiras estão em São Paulo. Essa nacionalização de uma rede que já almejou ser global mostra bem o que o Brasil representa para o Orkut: seu último foco de resistência, o único país em que ele ainda é o líder em número de usuários. Somos 32 milhões no Orkut, 61,5% do total de usuários, segundo a ComScore. O Facebook tem mais de 600 milhões de usuários no mundo, sendo apenas 12 milhões brasileiros.

O motivo de tanto sucesso? Para André Telles, publicitário e autor do livro Orkut.com (2005), isso se deve ao pioneirismo do Google ao introduzir rapidamente a rede social no Brasil e à estratégia de guerrilha dos convites necessários para se participar no site no início de seu processo de popularização, ainda em 2004.

“O Orkut foi porta de entrada da internet para diversos jovens no Brasil e certamente contribuiu para a inclusão digital, a partir do momento em que jovens da classe C e D faziam questão de fazer parte da rede”, diz Telles.

Segundo ele, a fatia dos brasileiros que está aderindo ao Facebook pertence às classes A e B e corresponde a uma porção muito pequena dos usuários de internet do Brasil.

A classe C, onde a maioria se concentra, não só ainda não migrou para o Facebook, como mantém um alto nível de atividade no Orkut. “Por isso não se pode desprezar o Orkut, em uma campanha de mídia digital, a classe C”, afirma Telles.

Mas o movimento de migração já é perceptível: em janeiro do ano passado, 92,6% dos usuários brasileiros do Facebook também acessavam seus perfis no Orkut. Em dezembro, esse percentual caiu para 88,7%.

“Existe menos superposição nas redes sociais hoje, e isso é uma tendência que vai continuar”, diz Alex Banks, diretor do instituto de pesquisa comScore no Brasil e vice-presidente na América Latina. Ele acredita que cada vez mais os brasileiros vão deixar de acessar as duas redes, para se dedicar somente ao Facebook. “Daqui a um ano, vamos ver o Facebook dobrando de audiência, e o Orkut não”, diz.

E o que ainda segura o brasileiro do Orkut? Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, responde: “Tradição, família e propriedade”. Ele diz que as pessoas gastaram tempo aprendendo a usar o Orkut, montaram suas redes de amigos e parentes no site e colocaram todos seus dados em seus perfis. Sair da rede e migrar para outra tem um custo, é como começar do zero, demanda esforço, já que não há um jeito simples de se exportar o perfil para outra rede social.

Para Banks, depois que a rede social do Google perdeu a liderança na Índia para o Facebook em 2010, o Orkut se tornou dependente dos brasileiros, o que, para ele, não é um bom sinal. “Uma rede social que é só um país tem os dias contados”.

Para reverter o quadro, Telles acredita que o Orkut tem que se abrasileirar cada vez mais, já que não vê uma saída internacional para o Google neste nicho. “É muito difícil. É melhor que o Orkut se solidifique onde já tem presença, melhorando seus diferenciais”, sugere.

Meira discorda. “O mundo é cada vez mais conectado e você acha que tem chance para ter uma rede social do Brasil? Ou Google tem uma estratégia global para o Orkut ou está acabado, pura e simplesmente”.

Leia o resto da reportagem em O Estado de S Paulo

editado por @frankhosaka

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