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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Enrenca 34- mala nihil

O mundo aquático de Hans Cristian Andersen,
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ººº   se eu "fui ou sou" a mulher peixe- então porisso que histórias de mar, e tipos ligados ao mar sempre me atrairam  ººº

Farei uma tentativa de entrar no pensamento do escritor de contos infantis, que viveu no século dezenove.
O mesmo autor de "O Patinho Feio".
Do mesmo jeito que se falou que o "patinho feio", na verdade- um cisne criado entre os patos,e que deslocado entre eles, foi procurar sua verdadeira família- do mesmo jeito que se falou que esse pato na verdade, era o próprio escritor, que teve uma vida de pobreza, e que estou depois de adulto, frequentando um ambiente de crianças,
a "pequena sereia"- embora ele não tenha contado, e embora nunca se tenha falado nisso- representou uma aristrocatra da elite cultural de alguma nação - e que se apaixonou por um homem simples.

Vcs já ouviram chamarem alguém de "peixe"- ou já foram chamados de "peixes"?
Então, sabem que "peixes" é uma gíria popular que designa "pessoas protegidas" e que "aquário" classifica uma elite pensante e cultural.
Vamos supor que  a pequena sereia tenha sido na verdade- Safo de Mitilene, e o escritor pode ter pensado nela, quando escreveu o conto.
Mas, na época não declarou nada, pois já houve mais preconceito contra Safo de Mitilene, em sociedades antigas, devido aos seus erros sexuais e afetivos.
Atualmente, a  mulher que ela foi, com suas consecuções já é valorizada mais do que esses erros dela.

O mar cheio de sereias, tritões - e presidido por Netuno- pai de Ariel, representou a elite econômica e intelectual da Grécia Antiga.
A elite cultural que viveu uma efervescência de pensamento, e estética, que depois "reencadernaria" no renascimento e no iluminismo europeu.
A tendência sexual "diferente" dela(e dúbia) ficou representada,em minha opinião- pelo fato dela ter mais sereias como amigas, do que tritões como companhias.
(tritão é o sereio...kkk...)
Aliás, ao que parece, ela pouco os conhecia.

Em sua "festa de debutante", aos quinze anos, ela teve permissão de subir à superfície.
Indo para lá, ela salvou um marinheiro de um naufrágio, e o levou para a praia.
Essa pode ter sido uma fantasia que o escritor teve em relação à chance da Safo de Mitilene, ser uma mulher modernosa demais, do tipo que "pagava coisas" e a conta do restaurante para os namorados.

Ela levaria para o fundo do mar- um busto de um ser humano, que ela passaria a cultuar, como uma lembrança do marinheiro por que se apaixonara à primeira vista.
Novamente, - foi na Grécia que as primeiras estátuas muito humanistas e "cheias de movimento" foram feitas.

Um dia, não aguentado a aflição que lhe provocava o desejo  de conviver com aquele a quem tinha conhecido na "superficie"- ela procuraria a bruxa do mar, para lhe pedir que lhe ensinasse com o virar gente, para poder andar sobre a terra, e para estar perto de quem ela desejava.
A bruxa (acho que era uma médica cirurgiã...kkkkk...) trocou sua cauda de peixe por uma par de pernas, em troca de sua voz de soprano.
Talvez, o interesse da bruxa, era afundar navios- com a gravação da voz dela, e roubar os tesouros encontrados nesses navios.
Ariel(ou Safo de Mitilene) nem pensou nas implicações do seu egoísmo amoroso, e no quanto podia estar colaborado para o prejuízo de outras pessoas, e ela pagaria por isso depois.

A bruxa- suponho- foi a descrição que o escritor da historinha, fez de Pitaco- tirano ditador da Grécia, no tempo em que a "pequena sereia" lá viveu, que usou de todos os modos para calar a voz dela, de Alceu e a do poeta Alcmán.
Alceu e Alcmán, com suas poesias politicas,tentaram incitar a revoltar popular contra o tirano- sem nenhum sucesso,pois há muito tempo- alguns políticos são figuras apoiadas e pré fabricadas pela elite, que consegue, umas vezes, mantê-los no poder.
Safo de Mitilene não gastava seu tempo falando mal dele, mas só sua prosa livre, lembrando às pessoas sua condição de liberdade, as tirava da escravidão mental ao ditador, o que também a fazia uma figura perigosa para a situação política que ali vigorava.
Eles foram isolados na Itália, e depois, puderam ir morar com segurança,em Lesbos, na Grécia.
Nenhum dos três se calou, como tanto quis Pitaco, mas Safo tinha uma curiosa dificuldade para conseguir encetar discursos sérios, ou para falar a total verdade sobre si  mesma.
Não se sabe porque ela tinha esse "bloqueio"- e essa pode ter sido a mudez simbólica da pequena sereia.

Ela se despediu de sua familia, -todas choraram com sua partida- e essas amigas peixas dela, podem ter sido as alunas da escola de dança da moça de Mitilene, tentando avisá-la de que o romance dela com o marinheiro Faón não ia dar certo- que ele era "de outro mundo" diferente do delas.

Ela se achou segura, pois já tinha sido casada com Cercolas, de Andros, namorara Alceu por versos, e...outras coisas mais.
Ela teria cismado com um barqueiro que fazia a travessia entre as ilhas da Grécia.

Ariel sonhava com um casamento com um ser humano - pois isso lhe daria uma "mônada humana" e ela poderia assim, ser "salva por Cristo".(essa idéia é do escritor. Safo de Mitilene, nasceu seiscentos anos antes do sr.JC e cem anos antes de sri Santinho)
Viver trezentos anos como peixe, para ela era nada em comparação com a "vida eterna no reino dos céus" ao lado do amor de sua vida.

Na prática, acho que isso traduziu a possibilidade de que Safo estava se sentindo cansada e chateada, numa vida extremamente produtiva, mas sem alma,  e sem o prazer de viver.
Suponho que ocorreu a ela o que ocorre a todo mundo. Que a certa altura de sua vida, aquilo que ela gostava tanto de fazer, que era falar e escrever, acabou se tornando um trabalho mecânico e "sem vida".
Faón lhe mostrou a alegria do contato com a natureza, das coisas simples e naturais, e o encanto de entender que nem sempre a vida precisava de palavras.
Que os melhores haicais, são os menores possíveis, que as expressões de alegria e de cuidado são grandes momentos de "iluminação religiosa".

Não se sabe como foi o namoro dela com esse moço, mais novo do que ela- mas existe uma poesia que me faz suspeitar que foi quase uma descrição que ela fez das conversas que ela e ele costumavam ter.
Porque, objetivamente, ela não conseguiu falar nada sobre o assunto, com ninguém.

"Os homens acham que uma frota de navios é uma bela armação.
 Eu vou contar que bonito mesmo,é quem você ama."

Isso ela pode ter escrito,por ter ouvido uma opinião dele- sobre o que era "belo".

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Ariel viveu na corte do príncipe marinheiro por bastante tempo, e procurou encantá-lo com sua dança, já que não podia falar. Ela sequer tinha algum recurso para contar a ele que havia salvo sua vida, uma vez.
Conhecia o mundo comum havia pouco tempo, ainda não era alfabetizada, e não podia escrever em lugar nenhum que fizera isso por ele,entretanto, ele entendia que ela o amava.
Mas, estava namorando quem ele supunha que havia salvo sua vida- que era uma garota da mesma idade da Ariel- e que havia encontrado ela na praia - no dia em que o navio dele havia naufragado.

A todos, ela parecia apenas uma criada, ou uma cortesã.

Quem sabe, se pudesse contar quem era realmente, a situação teria piorado para o seu lado, pois com a superstição que havia na época de que sereias afundam navios- ela poderia ser acusada daquele naufrágio.
Mas, o escritor Hans Cristhian Andersen, um homem mais modernoso, desconfiou corretamente que sereias não afundavam navios- que elas apenas tinham a pouca sorte de estarem sempre perto de algum que ia afundar.
Ou talvez, elas tinham uma sorte grande, nesse sentido,pois desse modo,poderiam salvar algumas vidas.

Um dia, ela estava no novo barco do príncipe- que várias vezes já lhe contara que a amava também,mas que a amava como a uma irmã, tão somente.
Ela chorava de tristeza.
Ele ia casar na semana seguinte, e ela havia sido avisada pela bruxa de que caso ele casasse com outra, ela morreria.
Não se importava com sua morte, mas sofria por não ser correspondida como desejava- em seu afeto.
Lembrava saudosa do lar que deixara - no fundo das águas, mas sentia que era tarde demais para tentar retornar a eles, pois ela inclusive,já não se sentia mais sereia.
Havia se humanizado.

As irmãs, com sua cantoria de ópera, a encontrariam na proa do barco, e estavam tristes também. Sabiam que o "partido" dela ia casar.
Elas haviam cortado seus longos cabelos, e dado para a bruxa do mar, em troca de uma faca, com a qual ela deveria matar o príncipe, para ela poder continuar viva.
Isso cortaria a maldição - mas privaria ele da vida.
E ela poderia voltar para casa.

Sem jamais poder dizer coisa alguma, - ela pegou a faca, e bem que considerou a possibilidade.
Mas, depois, num gesto formidável, quebrou a faca ao meio, e se atirou ao mar.
Sabia,que, não tendo mais brônquios de peixe, porque já era humana, ia morrer.
Preferiu ser ela a morrer, a tirar a vida de quem tanto amara.

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"Ariel tentava encantar o príncipe com a dança".

Safo de Mitilene foi dançarina, e suponho que ela pode ter dançado para tentar seduzir Faón- ora, nessas horas nós mulheres usamos as armas que temos para conquistar nossos príncipes.

"Ariel não podia falar ao príncipe do quanto ele lhe devia."

Safo de Mitilene foi uma grande poeta. Mas eu notei na obra dela- que ela não conseguia discorrer sobre temas mais sérios.
Era educada e grandiosa sim,mas meio frívola em muitos temas.
Não conseguia nem expressar dores profundas, nem amores colossais.
Suponho que essa dificuldade também era vivida na vida pessoal, e que  gerou para ela uma vida amorosa cheia de acidentes, aproximações, separações, e algum conflito com a filha pequena.
Ela não conseguiu fazer Faón entender o quanto ele era importante para ela.
Ele apenas se sabia amado pela mesma, mais nada.
Não conseguiu comovê-lo com suas palavras, tampouco, deixou qualquer registro histórico sobre esse namoro da mesma, tirando os versos acima escritos - e assim mesmo, a vinculação deles com esse namoro dela, foi uma suposição minha.

Acho que Faón era um marinheiro pobre, e que não acreditou que ela gostasse tanto dele assim.
Imaginou que aquela mulher poderosa iria usá-lo como brinquedo por uns três anos, e que mal se cansasse dele, acabaria deixando-o de lado, e voltando para a sua escola de dança, e para a companhia dos amigos poetas.

Talvez, as irmãs que "queriam ajudar Ariel" poderiam representar antigas amizades dela tentando reintegrá-la à vida que ela já conhecia, quando perceberam que poeta e marinheiro não iam casar.
Mas, ela se sentia desligada do "mundo antigo".
Como qualquer menina, ou como qualquer senhorita,que por uns anos, não vê mais nada pela frente, que não seja seu amor. O amor de sua vida- com todas as perspectivas de transformações de comportamentos e costumes, por esse amor representado.

Ela preferiu tentar, de um jeito formidável - provar para ele que gostava dele "de fato" - correndo um risco fora do comum em nome dele. Atirando-se do rochedo de Lêucades no mar.
Sabia que podia morrer em função disso,pois embora soubessse nadar, as correntes ali havidas,eram perigosas.
Se sobrevivesse, de todo modo,deixaria de lado sua atividade pública, e se retiraria para um convento, em nome dele.
Se morresse, sua "entrega amorosa definitiva" já estaria feita.

O importante, era ele acreditar nela.

Assim como Ariel- ela foi ao mar, e talvez tenha morrido- acho mais possível que ela tenha morrido, o que acho que atormenta a vida de Faón até hoje.(seja quem for Faón)

Mas, seja quem for ele, ele com certeza, - ainda que carregue um certo remorso- vive bem , e continua o mesmo.
Safo de Mitilene, - conforme ela mesma havia desejado, se transformou, em nome dele.
Deixou de ser uma personagem tão frívola, entrou para a História, e depois "caiu na vida".(kkkk...)
Hoje em dia, ela ainda se aventura muito a escrever,mas não escreve mais poesias.

Mas, a inocente "pequena sereia" de outros tempos- não entende que talvez sua maior colaboração histórica,foi ter sido quem foi.
Engraçado que quando as pessoas começam a buscar a santificação, elas acabam se tornando anônimas, e também deixam de ser "santas".

Se eu tão somente pudesse contar para ela, do ponto onde eu estou, que na verdade, ela fez tudo certo, que ela foi além do que qualquer pessoa poderia ter ido em dar bons exemplos, e que além de tudo, foi feliz - por ter vivido como desejou.
Tudo o de que ela estava precisando, era só de umas férias, ou de descansar provisoriamente de uma atividade repetitiva.

Mas, a vida segue seu curso.

Uma boa tarde aos que escutaram esse meu ...(hohó!)  ...canto lírico.

(e que meu amigo Hans Christian Andersen,esteja onde estiver, tenha tudo de bom,devido às intuições aguçadas que ele teve)

ººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº

3 comentários:

  1. Mas, por que pessoas protegidas são chamadas de "peixes" e por que Hans Crhistian Andersen representou a elite cultural da Grécia Antiga, como um mundo de sereias e tritões?

    Por que pesssoas "protegidas" não andam.

    Em tempos antigos, sempre estavam viajando a trabalho, e valiam-se de charretes, liteiras e barcos.
    Os cidadãos da Grécia navegavam demais entre as ilhas ali existentes.

    Os "peixes de hoje" tem carros e passagens de avião disponíveis.

    Mas, acho que todo mundo tem um pouco de peixe hoje em dia,mesmo que não seja rico.
    Afinal, a maior parte da população está motorizada.

    Hum...

    ...um pouco de cultura inútil também diverte.
    (h ! h ! h´!)

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  2. Eu só consegui ler até a metade do texto, estou na hora do trabalho. O mesmo problema enfrento no fórum AndroidZ, ontem comecei a ler o texto sobre o teclado Swype.

    Na entrelinha, você afirmou sobre o medo doentio do escritor fazer da arte de escrever um ato mecânico sem vida. O problema do leitor é mais dramático ainda, há muita coisa para ler, e eu acabo sempre rotulando alguns textos antes de chegar no final dele. Os textos do Adilson, por exemplo, eu só consigo enxergar alguém reclamando dos adoradores de defunto.

    Se eu lesse de maneira menos mecânica, certamente encontraria nos textos do Adilson uma sereia com vontade de dar o rabo para o marinheiro, mas não consigo ser o dono do tempo e nem procuro o final da história, pois nem lembro quando comecei a ler.

    É uma pena.

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  3. Hahaha...

    Tá, sr.Hosaka, essa encrenca entre uma sereia e uma versão anacrônica do Amyr Klink,poderá ficar para outro dia.
    Eu não esperava mesmo ser muito lida por alguém nessa divagação,que foi mais um "exercicio" meu.

    O sr.é imensamente bondoso- prometo que voltarei a ler suas crônicas tecnológicas- já que sempre se interessa pelo que eu faço,em nossos sites.

    Para hoje, eu rcomendo ao sr.a leitura do texto da Selma,acima da Encrenca 34,pois esse texto é menos ingênuo do que o meu.

    Um abraço - bom serviço ao sr- ponha uma ordem em suas prioridades,se cuida mesmo.

    Essa não é uma gentileza minha- pois gosto mesmo do senhor.

    Até mais.

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