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quinta-feira, 12 de maio de 2011

Bin Laden: Mais um pouco, ele vira santo

Teorias conspiratórias sobre a morte de Bin Laden alimentam o antiamericanismo – e vice-versa. Já tem gente até lamentando o seu “assassinato”, como se ele fosse vítima de práticas condenáveis.



A bala ainda nem havia esfriado no miolo de Osama bin Laden e duas correntes contraditórias mas mutuamente entrelaçadas ganharam o mundo. A primeira dizia que “tudo” parecia muito estranho – e daí brotaram as mais bizarras teorias conspiratórias. A segunda pregava que o criminoso de guerra, responsável por tramar a morte de 3000 pessoas inocentes ( e ainda dar risada num vídeo posteriormente capturado, fazendo sinal com a mão para mostrar como caíram os dois prédios do WTC, reduzindo a pós todos os que ainda lá estavam), havia sido “assassinado” , à margem da lei, não obstante o diretito dos povos à autodefesa.
Ou seja: os Estados Unidos sempre estariam errados, seja por fazer (transformar o sujeito em comida de peixe  no Mar da Arábia, o que não deixa de ter uma certa beleza poética), seja por não fazer ( forjar a operação com os sinistros objetivos de sempre).  A dancinha da vitória, sob a forma da estudantada que saiu para gritar “USA” e cantar desafinada o hino nacional ( só a primeira parte, porque é quase tão complicado quanto o brasileiro), foi particularmente ofensiva às sensibilidades estrangeiras. Um arcebispo anglicano declarou “ sentimentos muito desconfortáveis” e um colunista australiano celebrou a “aura de realismo mágico de Osama bin Laden; ele se parecia com o Cristo ressuscitado”.

A operação espantosamente precisa e arriscada que colocou 25 comandos da força Seal no cafofo do Osama e saiu de lá com o próprio ensacado foi perfeita para os teóricos da conspiração.  Para mantê-lo parcialmente em obrigatório sigilo, o governo americano divulgou pouco e mal, variando as versões e segurando a famosa foto que ninguém viu. O impulso de ver explicações secretas em grandes acontecimentos obedece a um muito humano desejo de estar por dentro de informações que a maioria ignora, alimentando assim sentimentos de autossatisfação e superioridade. A aleatoriedade da vida também pode ser mais incômoda  do que acreditar que uma conspiração entre a máfia e cubanos anticastristas matou John Kennedy, que o governo americano mantém em segredo desde 1947 o corpo do extraterrestre que caiu em Roswell e, evidentemente, que os atentados de 11 de setembro foram tramados pela CIA (e pelo Mossad, claro).

As teorias conspiracionistas fazem a fama de diretores como Oliver Stone e Michael Moore e a infâmia de multidões anônimas que só precisam de um computador e da internet para alimentar infinitamente as maiores maluquices. Em 2006, impressionantes 26% dos americanos achavam possível que os 19 fanáticos binladistas que sequestraram e espatifaram quatro aviões estivessem sendo manipulados por “gente de dentro” do governo.

Fora dos Estados Unidos, o conspiracionismo enrosca-se na doença infantil do antiamericanismo. Atribuir aos americanos a origem de rodos os males do mundo é um vício psíquico, fonte ao mesmo tempo de prazer e frustração. Desta última porque evidentemente continuam a ser a potência predominante, mesmo com a torcida para que a China os passe logo à frente e instaure uma benfazeja era de pax sinensis. E do primeiro porque provoca a sensação de pertencer ao "lado do bem", como criaas impotentes em eterno estado de revolta contra as autoridades. A narrativa da virimização dá sentido a trajetórias históricas erráticas e simula um combate maniqueista dos fracos contra os fortes. Reside nela a fonte mais poderosa do apelo de ultraextremistas como Bin Laden e correlatos. É comum que nos paises ocidentais, com o hábito do pensamento lógico e da autocrítica, se faça a justa distinção entre a grande religião muçulmana e os crimes praticados em seu nome por extremistas, mas o prestígio do terrorista-mor, mesmo em declínio, alcaa níveis espantosas: 34% dos palestinos, 26% dos indonésios e 22% dos egípcios, pesquisados neste ano pelo Pew Research Center, consideravam-no um lider digno de confiaa. Só para lembrar: Bin Laden virou a mira para os americanos depois que Saddam Hussein invadiu o Kuwait, e a Arábia Saudita, temendo ser a próxima, aceitou a intervenção militar dos Estados Unidos. Ele considerava o maior dos sacrilégios que infiéis cristãos conspurcassem o solo onde viveu o profeta Maomé e está o principal local de culto, a santa Meca.

Pois é, a história toda começou porque o sujeito  do turbante achava, no sentido figurado, que não dava para entrar no mesmo elevador que os americanos, um dos motivos mais idiotas de todos os tempos. Não admira que eles tenham matado Bin Laden em 2001 e mantido o corpo congelado aagora só para ajudar o Obama. Ou seria o contrário?


Revista Veja - 11 de maio 2011 - Edição 2216
Diogo Schelp


(Selma)

3 comentários:

  1. Na minha opinião o que as vezes causa o antiamericanismo é a infantilidade dos americanos que acham que o mundo inteiro é burro e acredita em tudo que os americanos dizem.
    Vejam.
    A operação espantosamente precisa e arriscada que colocou 25 comandos da força Seal no cafofo do Osama e saiu de lá com o próprio ensacado foi perfeita para os teóricos da conspiração.

    Não foi uma operação arriscada, foi uma operação fácil, hehehe.
    Os americanos fantasiam e exageram muito os suas operações militares por isso irritam.
    Também não concordo quando o jornalista fala que os EUA não estão decadentes em economia.
    Mas não acho que a China vai substituir os EUA porque a economia chinesa é baseada no trabalho escravo e no totalitarismo.
    Acho que em alguns anos a China vai parar de crescer.
    Acho que os americanos deviam parar de tentar enganar a opinião mundial e começarem a cobrar dos outros países ajuda na luta contra o terrorismo.
    Todo o mundo democrático ganha com as ações dos americanos contra os terroristas mas os gastos são só para os americanos.

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  2. O bandido Bin Laden agora está no inferno junto com o falso profeta Maomé, hehehe.

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  3. Para mim operação espantosa foi o resgate dos reféns judeus em Entebe.
    Os judeus são os melhores soldados e não ficam se vangloriando.
    Mas eu acho que em Entebe, Deus ajudou os israelenses, hehehe.

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