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terça-feira, 29 de março de 2011

Dom Pedro I e o poder da sedução


Uma coleção de cartas inéditas de dom Pedro I à marquesa de Santos colore o melhor romance  clandestino que abalou o império.

Duas semanas antes de subir a colina do Ipiranga e proclamar a independência do Brasil, em 1822, o então príncipe regente dom Pedro I conheceu aquela que viria a se tornar a mais proeminente figura feminina do Primeiro Reinado e a maior paixão de sua vida. Dali até 1829, a presença da paulista Domitila de Castro Canto e Melo, alçada à nobreza sob o título de marquesa de Santos, abalaria a reputação e as relações de Pedro I, já imperador, com a realeza européia. O imperador e a jovem foram protagonistas do mais tórrido romance da história da corte brasileira. Ele, casado, com a austríaca Maria Leopoldina de Habsburgo. Ela, filha de um milita e já separada do primeiro marido. As cartas escritas por  Pedro I formam um conjunto de valor histórico, do qual apenas uma parte era conhecida.

A ser lançado na próxima semana, o livro Titília e o Demonão (Geração Editorial; 352 páginas; 39,90 reais), apelidos de alcova, revela o conteúdo de 96 cartas inéditas.
Escritas do próprio punho pelo imperador, que também assinava Fogo Foguinho, as cartas são vazadas em uma linguagem coloquial com o uso intenso de imagens eróticas e, certamente, não foram produzidas para ser preservadas para a posteridade. A coleção reafirma os registros históricos que dão conta da enorme vulnerabilidade do monarca em relação à amante clandestina. “As cartas abrem ao leitor a oportunidade de lançar um olhar de voyeur sobre o romance secreto do imperador”, diz Paulo Rezzutti, compilador da coleção de missivas. 

O boêmio, aventureiro e mulherengo Pedro I emerge do conjunto de cartas  a Domitila como um ser frágil, carente e hipocondríaco. Ele avisa à amante que não irá à ópera para evitar “apanhar ar de noite”. Em outras cartas mostra-se preocupado com a saúde dos filhos – entre eles Isabel Maria, a duquesa de Goiás, fruto do seu relacionamento com Domitila.  Nas cartas, as manifestações de ciúme do imperador parecem exageradas, mas sinceras. Uma carta de 1827 revela também que, como um monarca seguro de seu poder incontrastável, Pedro I não se sentia constrangido a esconder ou a disfarçar seus sentimentos, com imagens literárias mais rebuscadas, ao estilo de seu tempo: “Eu tenho-te tanto amor que não sei até que ponto umas vezes me arrebata de prazer, outras de raiva. Eu conheço minhas esquisitices”. A marquesa também vivia enciumada – sentimento que Pedro I tentava minimizar: “Já não namoro a ninguém depois que lhe dei minha palavra de honra, e assim não lhe mereço teus ataques”.

As cartas reunidas no livro confirmam a ascendência que a marquesa tinha sobre o imperador, uma força que ultrapassava a influencia normalmente esperada da cortesã preferida do monarca. Domitila foi, numa corte tropical, mas mais falsamente moralista que a francesa, uma espécie de madame de Pompadour, a amante semioficial de Luiz XV, famosa, entre tantas coisas, por ter consolado o soberano depois de uma derrota militar com a frase: “Depois de nós, o dilúvio”. O imperador brasileiro cobria a sua amante de mimos. Em uma das cartas ele revela, com orgulho, que acabara de mandar fechar o teatro que havia barrado a entrada de Domitila: “Estão todos de boca aberta”. A influência de Domitila no período que se abrigou na corte era notória. O mais esperto tentavam obter favores do imperador pedindo intercessão da amante. Em muitas ocasiões oficiais, a marquesa de Santos ocupava o lugar que deveria estar reservado a Maria Leopoldina. Como era manobra comum nas cortes européias, a marquesa ocupou oficialmente a função de dama de honra da própria Leopoldina. Humilhada, a imperatriz desabafaria à irmã sobre “o monstro sedutor”, causa de todas as suas desgraças.

As cartas agora reveladas estavam engavetadas na Hispanic Society of América, em NY, em razão de um engano. Acreditava-se que o museu abrigava parte de um acervo de correspondências já bastante conhecidas.  A tinta tinha corroído o papel, e as cartas só se tornaram legíveis graças ao uso de uma nova tecnologia digital de tratamento de imagem. Com base no conteúdo das correspondências e em outras referências históricas, o autor ( Paulo Rezzutti) organizou pela primeira vez  o material em ordem cronológica, expondo assim a temperatura do romance ao longo de cinco dos sete anos que durou a arrebatadora relação.

A marquesa de Santos: o imperador chegou a
mandar fechar um teatro onde ela foi barrada.
 A última leva de cartas data de 1828. Elas retratam o imperador em fase de retirada da batalha amorosa, dirigindo-se à amante em um tom frio e protocolar. Pedro I vivia um momento especial. Quase dois anos depois da morte de Leopoldina, o monarca não conseguira ainda arranjar uma esposa entre as mulheres nobres das cortes européias.  Sua fama de homem promíscuo e mau marido era voz corrente. “Parte de péssima reputação do imperador deveu-se ao empenho de seus opositores em propagar essa imagem entre a nobreza europeia”, diz o historiador Marco Antonio Villa. Por razões de estado, como se diria, Pedro I decidiu romper com a amante, expulsando-a da corte em 1829. O imperador havia se casado, por procuração, com a milanesa Amélia de Beauharnais, com quem ficaria até a morte, cinco anos mais tarde. Dom Pedro I jamais voltaria a ver a marquesa de Santos, dando fim aí a uma história de amor que pôs em risco a estabilidade do império.


O palco do romance. A casa da marquesa, hoje museu
do Rio de Janeiro: crises de ciúme e razões de estado.


Trechos das cartas de um monarca apaixonado, entre os anos de 1823  e 1828:


“Ontem mesmo fiz amor de matrimônio para que hoje, se mecê estiver melhor e com disposição, fazer o nosso amor por devoção. Aceite, meu benzinho, meu amor, meu encanto e meu tudo, o coração constante. Deste seu fiel amante, O Demonão” (1824)


“Responde sem me enganares, e com aquela verdade com que eu sempre te falo. (...) Tira-me da alição qe estou por causa do anel (suposto presente de um amigo) que tantas tolices tem feito supor a este teu filho, amigo e amante” (1827)

“A noite lá irei, e o mais cedo que puder, para ter o gosto de gozar da sua tão amável companhia, e que até se faz precisa para a existência. Deste seu desvelado amante, O Demonão” (1824)

(Revista Veja)


Quando estava na escola e estudava sobre a história do Brasil, via Dom Pedro como um homem sério e que só pensava na Pátria... E não era nada disso... Terrível esse dom Pedro I, não? Demonão?? Ahahaha! Meu Deus!  Por que será esse apelido?


(Selma)

5 comentários:

  1. Se Moisés tivesse consultado o museu de Nova York, certamente teria republicado Gênesis, afirmando que nem Caím e nem Abel eram filhos legítimos de Adão e Eva. Ou seja, todos somos filhos da outra, logo não vale a pena estudar a História, principalmente porque o exame do DNA só surgiu no fim do século XX,

    Por isso é que não assino a Veja, que só vive de fofocas. Que importância tem para o contribuinte saber que a Dilma é amante do Lula, se ele vai ter que pagar os impostos do mesmo jeito?

    iFrank

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  2. Sr.Mino Carta disse sobre o jornalismo brasileiro, algo que eu costumo dizer sobre os cachorros que vivem nas ruas:

    "_dá uma pena..." (hahaha...)

    Mas o problema do dr.dom Pedro,é que ele era salafrário.(bah)

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  3. Este dom Pedro é dos meus! kkkkkk

    Cerol fininho!...

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  4. Eu sempre quiz conhecer uma pessoas honestas que nem o dom Pedro;esta casa e uma maravilha e eu ja fui varias vezes la em quinta da boa vista e muito bom la agente se sente em casa

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  5. FIGURA ENIGMÁTICA, CONTROVERSA, DESPUDORADO, ARROGANTE, MAS SOBRETUDO CORAJOSO E CAPAZ DE ASSUMIR UMA MISSÃO QUE ACABO POR CONCLUIR PARA A QUAL NÃO ESTAVA PREPARADO. O PAI VEIO AO BRASIL, FUGIDO DE NAPOLEÃO, SAQUEOU OS COFRES DO PAIS, DEIXANDO-0 À BANCARROTA E LARGOU AQUI O PRÓPRIO FILHO, DIGA-SE, À PRÓPRIA SORTE. PRECISO ESTUDAR MAIS ESSE PERSONAGEM, MAS DESDE LOGO O ADMIRO,PORQUE ESCREVEU UMA PARTE IMPORTANTE DA HISTÓRIA DO BRASIL. VEJA-SE BEM: SÓ VIVEU MEROS 35 ANOS

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